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Jornal do Brasil - Cultura - Anna Maria Maiolino: É só barro – e também arte
Anna Maria Maiolino: É só barro – e também arte
André Duchiade, Jornal do Brasil
– Para Anna, na verdade, é argila modelada. Não tenho nenhuma representação. Quero a presença da entropia, do trabalho realizado – conta a artista, referindo-se a si mesma na terceira pessoa.
– No nível da estética (uma palavra que ficou velha, prefiro o termo “poética”), as preocupações nascem de certos enfoques no seu interior, certas motivações psíquicas e subjetivas iguais. Um poema fala de maneira diferente de um vídeo. Quando se utiliza diferentes mídias, o discurso se alarga e fica mais rico.
A artista começou seus estudos formais de arte na Venezuela, para onde os pais imigraram antes de tentar a vida no Brasil. Desde 1958 expôs regularmente no país, e quando se mudou para o Rio seguiu aulas de pintura e xilogravura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Nos anos seguintes participou de salões no Brasil e na Venezuela, ganhando prêmios e uma exposição individual em Caracas.
Em 1965, aproximou-se dos questionamentos do movimento conhecido como Nova Objetividade e assumiu como temas dominantes a condição feminina, o cotidiano e a política. São desse período obras com A espera, O herói e Glu-Glu-Glu, xilogravura que mostra um homem fazendo um banquete sobre uma privada.
– Era um momento muito bonito e especial, as utopias estavam no ar apesar dos militares – diz. – A política entra em questão quando me afeta. Meu trabalho não era sobre a ditadura, era sobre a vida.
Em 1968, naturalizou-se brasileira e mudou-se para Nova York com o marido, o artista Rubens Gerchman. Na cidade teve contato com artistas latino-americanos com propostas experimentais de linguagem e abandonou a representação. Voltou ao Brasil em 1972, onde vive desde então, primeiro no Rio e atualmente em São Paulo.
– Considero-me brasileira pela minha formação. Herdei toda a minha mensagem dos artistas mais pungentes e vivos da arte brasileira.
Sua produção a partir da década de 1970 se caracteriza pela diversidade de suportes, primeiro poesia e desenho, depois as mais variadas formas. A instalação Entrevidas, de 1981, consiste num espaço com o piso ocupado com 70 dúzias de ovos naturais de galinha, por onde os visitantes caminham como se estivessem num campo minado. A instalação foi propositalmente concebida num momento particular da vida política do país, da abertura democrática. A argila veio há cerca de 20 anos.
– Eu fazia então muitos desenhos com água, mas quis fechar um ciclo. Quando você vai para uma coisa tão imaterial como desenho com água, é preciso colocar os pés no chão. A argila é terra, o máximo da materialidade – explica.
A busca pela diferença e repetição no trabalho da artista tornou-se consciente em 1993, quando realizou Um, nenhum e cem mil, no Centro Cultural Banco do Brasil, exposição a respeito da identidade inspirada pelo livro de Pirandello. Engana-se quem pensa que a busca pelo tema foi algum filósofo francês:
– Só li Diferença e Repetição (considerada obra maior de Gilles Deleuze, de 1968) em 1997. Era como se eu visse meu pai na mesa, tivesse ilustrado o pensamento dele. Mas cheguei lá através da argila. Quando se está em contato com a matéria, ela ativa seu pensamento, faz com que se busque caminhos materiais. O pensamento acompanha.
17:54 - 17/04/2010
Eu adoro o trabalho dela. Como pessoa é muito especial. Muito boa a matéria. Marcio
ResponderExcluirAna, amei seu blog!
ResponderExcluirBjs!
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