sábado, 2 de maio de 2009

Eu sinto muito


No Jardim Botânico


(A mesma luz e
O bosque imerso nela)

Ando rápido como se pudesse escorrer a raiva pelos pés, como se pudesse afundar essa metódica raiva na lama rasa que se formou depois da chuva. Os turistas passam devagar aprisionando a paisagem nas câmeras digitais. Aprisionam a mesma paisagem que eu espero que me liberte, que me traga a redenção pra esse sentir desmedido que me enfeitiça e aprisiona na consciência de um tempo circular, initerruptamente a fazer e desfazer. Esse sentir sem alívio, sem perdão, sem trégua.
Duvido de tudo, agora.
Pensei que escolhi.
Pensei que fiz.
Pensei que desfiz.
Nada disso.

Só senti .

Sento à beira do lago para escrever e tentar colocar uma ordem no tempo e na raiva que não consegui escorrer de mim.

O sol do outono me faz um doce carinho no ombro direito. Paro de escrever, viro meu rosto na direção dele e lembro do Alberto Caeiro, pra quem a luz do sol não sabe o que faz e por isso não erra ,e é comum e boa. Não há metafísica, diz ele. Quem dera! Essa luz, madura e dourada, é justamente a que me traz de volta a consciência desse sentir. É a mesma luz de tantos outros sentires, e o bosque imerso nela.
É o sol, que neste exato brilhar entre as folhas ainda molhadas, me exibe e me expõe na mesma condição de fragilidade.


Vou embora para preservar essa minha nudez.
AnaCris Nadruz

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